Copacabana

Saindo da caótica cidade de La Paz, a viagem continua pelas tortuosas estradas bolivianas, que agora seguem em melhores condições. As belas paisagens fazem parte do caminho em direção ao Peru. Intercalam-se nevados, povoados rústicos, casas de adobe e campos limitados por cercas de pedra. O mais impressionante é a imensidão azul do Titicaca que surge aos poucos e vai tomando conta da paisagem, revelando toda sua grandeza. Em um trecho, a rodovia é interrompida pelas suas águas. As pessoas descem dos veículos e atravessam em pequenos barcos. Ótima oportunidade para sentir o vento frio que sopra sob as águas. Enquanto isso, cada carro ou ônibus cruza aquele “braço” do lago em uma frágil balsa. Em meia hora chega-se ao outro lado. Enquanto os veículos não chegam, pode-se visitar o pequeno comércio, que se aproveita dessa parada dos viajantes. Nesse local tivemos uma experiência pitoresca. Ao colocar o pé dentro de um mercado de peixes sentimos a força da cultura local. Fomos surpreendidos pela manifestação espontânea das vendedoras – as cholas – que aos gritos diziam “truta”, “truta”, “truta”; uma gritaria ensurdecedora que aumentava na mesma medida que avançávamos pela frente das bancas. Elas saltavam dos seus bancos gritando desesperadamente em nossa direção. Nossa! Saímos de lá o mais rápido possível, ainda sem saber o que tinha acontecido. Quando o ônibus chegou, continuamos a viagem serpenteando as encostas, sempre com o Titicaca ao lado. Ao longe surge o povoado de Copacabana, que leva esse nome devido as suas semelhanças com a nossa praia carioca. Uma linda cidade, lugar especial de vielas e uma bela vista do pôr-do-sol sob o Titicaca. A cultura aflora por todos os cantos desse povoado e, devido ao turismo, existe uma forte mistura entre o novo e o velho. O passeio de barco até a Isla del Sol é imperdível. Do alto da ilha pode-se avistar a imensidão azul do lago, alimentado pelos nevados que aparecem ao longe. A presença inca é atestada pelos terraços e ruínas presentes na ilha e basta uma visita à catedral para perceber a dominação dos espanhóis sobre essa cultura. Enfim, passamos a virada do ano em Copacabana, mas não naquela movimentada e festiva, e sim nessa, às margens do Titicaca, que reserva ao viajante a tranquilidade e reflexão sobre a entrada de um novo ano.



O azul do Titicaca

Subindo a Isla del Sol

Copacabana



Autor: Bruno Freitas da Silva